Quem ler “Lincoln” , de Doris Kearns Goodwin. livro que inspirou o filme de Steven Spielberg, constata que há mais de dois séculos os norte americanos da política exercitavam sistema de escolha de candidatos à Presidência da Republica, mais inteligente e moderno que o nosso. Os partidos políticos escolhiam seus candidatos realizando as chamadas eleições primárias. Citei várias vezes ao debater projeto de minha autoria aprovado pelo Senado e paralisado na Câmara dos Deputados, o exemplo recente da eleição que levou Obama à Presidência dos Estados Unidos. Chance alguma teria se a indicação coubesse como no Brasil, à auto-suficiência e arrogância do caciquismo partidário. Começou o processo eleitoral como “zebra” e derrotou a Senhora Clinton que imediatamente o apoiou, uniu os democratas e com a vitoria passou a ser influente colaboradora do Obama Presidente. Em 1860, Lincoln, modesto advogado, foi subestimado por cardeais da política e analistas da grande imprensa. À frente dele no Partido Republicano pelo menos 3 líderes despontavam como favoritos. Dois deles considerados pelo talento reconhecido, verdadeiros estadistas. Pois bem, Lincoln, o modesto advogado, os derrotou. E a consequência imediata foi o fortalecimento do projeto republicano com a construção da unidade. Os concorrentes não só o apoiaram decididamente como se tornaram expoentes do seu governo. O resultado a história conta. Porque mais de dois séculos depois não aprendemos? No Brasil, os partidos políticos possuem autonomia e independem de nova legislação para a adoção desse democrático sistema de escolha, mas preferem o que é retrogrado e escolhem seus candidatos majoritários, desprezando lideranças, militantes e a população, na autentica consagração do atraso. Repudiam a modernidade e com ela o salto de qualidade capaz de recuperar credibilidade e conceito, reabilitando pelo menos parcialmente a desmoralizada atividade política no Brasil. A disputa eleitoral perde muito do seu encanto e especialmente a oposição desperdiça a oportunidade de manifestar respeito maior ao eleitor, transformando o caminho para a vitória num difícil e tortuoso itinerário a ser percorrido com consequências imprevisíveis. Ao desperdiçar essa oportunidade de avanço democrático a oposição no Brasil leva analistas a mudar conceitos e teses e considerar Dilma, a favorita. Nunca, governo algum elegeu sucessor ostentando apenas 39% de aprovação. Só devastadores equívocos oposicionistas podem justificar essa gritante contradição: governo condenado/presidente eleita! Dilma pode até se reeleger, mas muito mais pelas deficiências da oposição que por méritos do seu governo que é a fotografia do fracasso em quase todas as áreas. Ainda há tempo para a mudança?