A partir desta segunda-feira, a presidente Dilma estará em Cuba para inaugurar, junto com o presidente daquele país, Raúl Castro, a primeira parte do Porto de Mariel, uma obra financiada com recursos do governo brasileira, via empréstimos “sigilosos” do BNDES. Além da obra, Dilma participará, junto a Castro e outros chefes de Estado, do segundo encontro da Celac, a Comunidade de Estados Latino-americanos e caribenhos que, teoricamente, visa ao diálogo político e à cooperação de todos os 33 países da América Latina e Caribe.
Sobre esta reunião da Celac, que ocorrerá em Havana, a blogueira cubana Yoani Sánchez, uma das vozes mais críticas à ditadura castrista naquela ilha caribenha, postou um comentário em seu site falando sobre a ação maquiadora do governo para que o chefes de Estado não vejam a Cuba real. Segundo afirma Yoani, a ditadura castrista, sempre em períodos anteriores à realização de encontros ou visitas de governantes ou autoridades estrangeiras, promove uma intensa “limpeza”, retirando de circulação das ruas da capital centenas de mendigos, prostitutas e, principalmente, dissidentes do regime. A polícia de Raúl Castro percorre e invade casas e empresas onde o regime desconfia haver opositores. A empresa telefônica do Estado corta o acesso de milhares de pessoas à já fraca rede de internet. Ruas e prédios são pintadas às pressas, flores e plantas decorativas são instaladas. “Todos que pertencem a uma Havana clandestina e oficialmente irrepresentável, devem ficar quietos, muito quietos”, diz Yoani.
Leia abaixo o texto publicado por Yoani Sánchez, já traduzido do espanhol:
“Chamei um amigo ontem. Ele estava nervoso. Por volta de sua casa a polícia realizava uma itensa ‘limpeza´. As razões para tal alteração foi porque este se aposentou sem uma pensão, e atualmente vive com uma serviço de televisão por antena parabólica ilegal a ser prestado a várias famílias. Então, quando a polícia chega muito rigorosas, o meu amigo tem que cortar os cabos, ocultar a placa e deixar de ganhar os honorários pagos por esses dias. Um verdadeiro desastre econômico para ele. Sempre que você ouvir sobre a realização de um encontro internacional, um encontro com convidados estrangeiros dignitários visitantes ou qualquer outro país, começa a temer por seu negócio. Saibam que cada um desses eventos corresponde a uma batida policial feita com zelo e intransigência.
Quando o Papa Bento XVI visitou a ilha, centenas de mendigos, prostitutas e dissidentes foram retirados de circulação. A empresa de telefonia Cubacel também fez a sua parte, cortando o serviço a 500 mil usuários em todo o país. Estamos agora mais próximos da segunda Cimeira da Comunidade da América Latina e das Caraíbas (CELAC), que será realizada no final de janeiro, em Havana. Se vê caminhões com jarros de plantas e flores que serão regadas apenas por duas semanas e devem ser localizados nas principais avenidas. Em algumas ruas do centro andaimes se levantam com pintores com gordos pincéis para colorir rachados e paredes enegrecidas. Também retocam sinais de trânsito ao longo do percurso onde os convidados irão passar, e até mesmo cercas antigas e lascadas de casas são substituídas por outras.
Meu amigo foi alertado de que essa Havana clandestina e oficialmente irrepresentável deve ficar quieta, muito quieta. Os mendigos estão sendo escondidos até que acabe a cúpula, os cafetões estão sendo advertidos de que mantenham suas meninas e meninos controlados, enquanto os membros da polícia política visitam as casas dos adversários e opositores. O mercado ilegal também está em xeque. Fiquem tranquilos, tranquilos, repete a polícia em um tom ameaçador, deixando sempre uma notificação por escrito. Então, meu amigo começou esta manhã a desconectar seus computadores e voltou a me ligar novamente para me assegurar que nos dias 28 e 29 de janeiro não irá colocar um pé sequer na rua. ‘Nem um pouco! Eu não tenho vontade de dormir em uma masmorra’, disse, antes de desligar o telefone e guardar com cuidado sua antena”.
(Postado por Eduardo Mota – Assessoria de Imprensa)