“Demitir Nestor Cerveró é culpar o bagre ao invés dos tubarões que se encontram nas águas profundas dos negócios nebulosos da Petrobras”. A afirmação foi feita pelo senador Alvaro Dias, na sessão plenária desta segunda-feira (24), ao defender a necessidade de criação e instalação de uma comissão parlamentar de inquérito que possa investigar as denúncias de gestão temerária e fraudulenta que envolvem a Petrobras.
O senador lembrou que Nestor Cerveró, diretor da Área Internacional da Petrobras, demitido na última semana pela presidente Dilma Rousseff, já havia apresentado um documento há alguns anos, chamado de “Carta de Cerveró”, em que ostensivamente agia em benefício da empresa belga que vendeu a refinaria Pasadena à estatal brasileira. Alvaro Dias destacou que a citação do teor deste documento do então diretor da companhia, que apresentava posição em franco detrimento da estatal brasileira, está presente na representação que protocolou na Procuradoria-Geral da República, em dezembro de 2012, e que levou o órgão a abrir inquérito para investigar a negociata em torno da refinaria do Texas (EUA).
Na representação que enviou à PGR, Alvaro Dias lembra que quando a Petrobras decidiu comprar os 50% restantes da Pasadena por US$ 700 milhões, a própria ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, levantou dúvidas a respeito da transação, e o então presidente da empresa, Sérgio Gabrielli, fez circular a versão de que o acordo havia sido negociado por Nestor Cerveró, sem o conhecimento de mais ninguém da cúpula, nem dele próprio. Nos corredores da estatal, falava da “Carta de Cerveró”, documento em que o diretor “entregava o ouro aos belgas”. A imprensa, quando denunciou a operação de compra da refinaria, apresenta o documento para mostrar que a diretoria comandada por Gabrielli agiu em benefício dos belgas e contra os interesses da estatal brasileira.
“Desde que protocolamos nossa representação, a presidente Dilma ignorou as denúncias sobre a compra da Pasadena, desdenhou da investigação da PGR, e até mesmo contribuiu para a negligência do governo em apurar o caso. E a presidente ainda passou a mão na cabeça dos principais responsáveis por esta desastrada operação, já que Gabrielli foi premiado com um cargo no governo da Bahia e nenhum dos diretores foi demitido ou convocado a dar explicações. A presidente da República também não tomou nenhuma providência de natureza administrativa, nem mesmo acionou os órgãos e mecanismos de fiscalização e controle do governo para tomar providências. Esses órgãos, aliás, existem apenas para enfeite da estrutura, do organismo da administração federal. Não agem e não funcionam. Essa atitude da presidente e de seu governo beira a irresponsabilidade. Portanto, esta justificativa de Dilma, que leu um relatório falho, a condena. E se não for esta justificativa, se a presidente leu, se ela se inteirou, tomou conhecimento dos fatos, ela é cúmplice de uma operação desonesta e desastrada para o Brasil”, afirmou o senador Alvaro Dias.