O senador Alvaro Dias, autor do requerimento de criação da CPI da Petrobras no Senado, classificou como “encenação e protelação” o fato de o Congresso estar há 40 dias discutindo os termos de sua instalação, sem que ela consiga de fato funcionar. Para Alvaro Dias, mesmo se a comissão de inquérito for efetivamente instalada na próxima semana, como promete o senador Renan Calheiros, a população deve esperar novos impasses e obstrução à investigação. Como destacou o senador, o governo terá o controle da presidência e da relatoria da comissão, além da maioria dos membros, e, portanto, a oposição terá dificuldade de aprovar requerimentos e obter informações, especialmente as sigilosas, obtidas com quebras de sigilo de empresas e dirigentes da estatal. Segundo o senador, muito mais que a produção de um bom relatório, a missão da CPI da Petrobras será contribuir com a investigação judiciária.
“Se houver a instalação, depois teremos nova batalha contra o tempo. Este ano existe um calendário diferente, encurtado. Aqueles que não desejam investigação alguma trabalham com o tempo a seu favor, empurrando ao máximo para que as investigações não tenham início muito antes da campanha eleitoral. Depois haverá outra batalha: a batalha dos requerimentos, a estratégia governista de rejeitar requerimentos, iniciativas as mais diversas para protelação e resposta às requisições solicitadas. E assim o governo vai empurrando para frente e deixando mal a instituição. Por isso, não gero falsas expectativas em relação aos resultados da CPI. Mas que o governo não se engane: é nosso dever trabalhar para que essa CPI se instale, a fim de que seja o palco da transparência, colocando o mal da corrupção na Petrobras à luz para que ele possa ser reconhecido, identificado, devidamente focalizado, investigado responsavelmente e, se possível, denunciado e condenado. Nós não vamos apostar num relatório final que possa indiciar pessoas porque sabemos que esse não é o objetivo da maioria que integrará a CPI. O que nós tentaremos fazer é alimentar a investigação judiciária, estimulando-a, convocando a responsabilidade diante da presença da opinião pública, que se torna visível com uma CPI”, afirmou o senador Alvaro Dias.
O senador, em entrevista, reiterou que o PSDB não concorda com duas comissões iguais, uma no Senado e outra no Congresso, e por isso só fez as indicações para a CPI mista, composta de deputados e senadores.
“Esse paralelismo é puro jogo de cena das lideranças governistas. O que o governo e seus aliados desejam é embaralhar todas as cartas para dificultar qualquer investigação sobre as denúncias na Petrobras. A verdade é que a maioria governista não deseja CPI alguma, nem de Petrobras, nem de metrô é uma falácia. Não estão desejando a CPI do metrô, porque se fosse pra valer, não seria metrô de São Paulo apenas. Nós teríamos Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Rio de Janeiro, contratos de empresas de trens com o governo federal, já que as mesmas empresas atuam em todos esses metrôs”, afirmou o senador.
Foto: Gerdan Wesley