“A dívida pública é nosso calcanhar de Aquiles”, garante o presidenciável Álvaro Dias
O Mariana Godoy Entrevista desta sexta-feira (6) recebeu o senador Álvaro Dias (Podemos/PR), mais um pré-candidato à presidência da República. Nesta entrevista da série que o programa realiza com os presidenciáveis, Álvaro Dias se mostrou favorável a uma reforma do Estado, reduzindo-se o número de senadores e deputados. O político se mostrou favorável a um debate sobre o porte de armas, defendeu o fim da estabilidade ao funcionalismo público, a taxação de grandes fortunas e mostrou-se contra a privatização da Petrobras, da Eletrobras e da Casa da Moeda. Ele ainda garantiu que é hora de deixar de ser oposição para governar o Brasil.
Muito ativo nas redes sociais, o senador Álvaro Dias falou sobre sua constante presença no Facebook: “De início, o desejo era prestar contas do trabalho, aquela ansiedade, será que sabem o que estou fazendo aqui?” Para o senador, as pessoas despertaram para a política depois das grandes manifestações de 2013. O político acredita que a população brasileira readquiriu a “indignação” contra a corrupção. “Nós iniciamos esse envolvimento com as redes sociais para prestar contas do nosso trabalho e, depois, como uma espécie de termômetro a medir o pulsar das aspirações das pessoas.” Ele concluiu: “Passamos a ter uma relação mais direta com as pessoas que nos acompanham através das redes sociais”.
Apontado por pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha como um dos pré-candidatos à presidência da República com menor rejeição por parte do eleitorado (22%), Álvaro Dias comentou o desempenho nas pesquisas: “É uma análise que se fazia mesmo antes de o meu nome ser incluído. As pesquisas nesse momento não dizem respeito ao futuro. O futuro está por vir, muita água vai passar debaixo dessa ponte. Essas pesquisas dizem respeito ao passado, elas valem para medir a rejeição, porque o passado já está posto, é o seu itinerário que teve como consequência rejeição maior ou menor, é a sua atuação.” Ele observou: “É evidente que nós teremos mudanças importantes nesse ranking de candidatos no decorrer da campanha”.
Ao ser questionado por um internauta se proporia uma reforma tributária e se diminuiria a taxação sobre o consumo, o pré-candidato do Podemos afirmou: “O Brasil é uma nação a espera de reformas e a população, quando foi para as ruas, foi não apenas para pedir o impeachment de quem presidia o país, foi para exigir mudanças, mudança, evidente, da prática política, do comportamento, da postura, da cultura política brasileira, mas também essas mudanças pontuais, as reformas. Eu começaria pela reforma do Estado, uma espécie de refundação da República. Nós temos um sistema de governança que quebrou o país, é a causa maior da desgraça que se abateu sobre o nosso país, com a incompetência administrativa sendo consagrada e com a corrupção que se alargou de forma histórica e sem precedentes”.
O senador ainda afirmou que existe “uma relação promíscua entre os poderes” e cobrou uma diminuição do Estado: “Por que três senadores e não dois por estado? Qual é a diferença? O que perde a população se nós tivermos dois senadores por estado e não três? E na Câmara dos Deputados, por que 513 deputados, por que 28 partidos representados na Câmara dos Deputados dos 35 que já possuem registro e de mais 60 que estão na fila, alimentados pelo fundo partidário, estimulados pelo fundo partidário”?
Ao ser perguntado se era entusiasta do sistema parlamentarista, Álvaro Dias observou: “No futuro. Primeiro uma reforma política que permita a construção de partidos de verdade. O parlamentarismo é um regime sustentado pela existência de partidos com identidade programática. O que temos hoje não são partidos, são siglas”. Ele finalizou: “Falar em parlamentarismo sem partidos de verdade é correr o risco do fracasso”.
O pré-candidato do Podemos se mostrou favorável ao fim da estabilidade para o funcionalismo público: “Eu acho que nós temos que estabelecer um regime liberal no processo econômico do país. Liberdade para empreender, liberdade para consumir e o setor público tem que ser revisto. É evidente que há respeito ao que está estabelecido, direitos adquiridos, mas há direitos também pessimamente adquiridos, que podem ser discutidos. Nós temos que respeitar direitos adquiridos, mas respeitar, acima de tudo, o direito do contribuinte brasileiro. O dinheiro que ele paga do imposto com sacrifício, muitas vezes sem poder pagar, não pode ser o desperdício que a gente vê, não pode ser a irresponsabilidade que a gente vê”.
Depois de falar sobre a ‘máquina administrativa do país’, o senador foi estimulado por um internauta a falar sobre assuntos que impactam de forma mais direta o dia a dia dos brasileiros e escolheu sua prioridade: “Tudo começa em Brasília. Para chegar lá no interior do país, e cuidar do cidadão que quer salário, casa para morar e viver com dignidade, começa em Brasília com essas reformas. A segurança, a violência está avassaladora no país porque é preciso mudar Brasília”.
O pré-candidato explicitou o que, segundo ele, não vem dando certo na administração do país: “Há uma reforma fundamental que pouco se fala, uma mudança fundamental, que é a mudança da administração da dívida pública brasileira. Eu considero nosso calcanhar de Aquiles. Essa equipe econômica do atual governo é competente, ela tem promovido alguns avanços, mas em nenhum momento falou da dívida pública, me parece ser refém do sistema financeiro. A dívida pública brasileira hoje alcança 75% do Produto Interno Bruto (PIB)”.
O senador foi perguntado por um internauta se é favorável à privatização da Petrobras: “A Petrobras foi privatizada pelo propinoduto. Os últimos governos privatizaram a Petrobras pelas mãos da corrupção, da roubalheira desenfreada. O que nós precisamos agora é retirá-la das mãos dos que a assaltaram nos últimos anos, porque é uma grande empresa, é um orgulho nacional, não se privatiza uma empresa que só dá lucro ao país. O que não se deve permitir é que ela seja outra vez assaltada como foi nos últimos anos.” Sobre a privatização da Casa da Moeda, Álvaro Dias observou: “Que necessidade de imprimir em outro país? Por quê? Não temos competência nem mesmo para imprimir a nossa moeda? Acho que isso basta.” Ainda sobre as privatizações, ele falou sobre outra grande empresa nacional: “A Eletrobras também cai no campo da estratégia. Imagine os chineses definindo quanto nós temos que pagar no final do mês na conta de luz. É um setor estratégico. Nós temos competência e know-how também nessa área.” Para finalizar, ele criticou a gestão de Michel Temer (PMDB): “Eu acho que esse governo está cometendo um crime lesa-pátria ao privatizar apressadamente algumas empresas de energia que são rentáveis e que não deveriam ser privatizadas num momento crítico, um governo complexo, temerário, um governo complicado, nervoso, um governo denunciado por corrupção”.
Álvaro Dias foi perguntado sobre qual é a posição oficial do Podemos com relação ao governo Temer. “Neste momento o partido não tem questão fechada”, disse o senador. “Os seus parlamentares estão livres para decidir, opinar e votar de acordo com sua consciência, sem amarras.” Para o político, a legenda ainda está em construção e deve, depois das eleições, adotar posições que indiquem o perfil do partido. O pré-candidato do Podemos fez questão, entretanto, de enfatizar: “O nosso movimento prega a consulta popular, o exercício da democracia direta e isso exige, portanto, unidade partidária, por que se nós vamos consultar teremos que respeitar em relação ao resultado dessa consulta”.
Álvaro Dias (Imagem: Divulgação RedeTV!)
Sobre a liberação da posse de armas, o senador fez as seguintes observação: “Nós temos que rediscutir essa questão, se é o plebiscito a forma, ainda não estou seguro. Quem sabe uma discussão entre especialistas para a elaboração de uma nova proposta de lei e aí, possivelmente, um referendo.” O político emitiu sua opinião pessoal sobre o tema: “Eu não creio que seja adequado proibir terminativamente o uso de armas. Há situações em que se recomenda a utilização, o porte de armas de forma legal”.
O pré-candidato do Podemos falou sobre a posição do partido com relação ao foro privilegiado: “Eu fui o autor da proposta em 2013. Depois de quatro anos de insistência, de persistência, nós conseguimos aprovar no Senado, graças ao apoio popular, especialmente através das redes sociais, aprovamos no Senado e agora está na Câmara.” O senador foi enfático em sua posição pessoal sobre o assunto: “O foro privilegiado é o paraíso da impunidade”.
Álvaro Dias falou sobre a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, ao ser questionado se acredita na prisão do petista, preferiu passar a responsabilidade: “Quem vai responder essa pergunta é o Tribunal Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, e não demora muito. O Moro já respondeu. Agora falta a resposta desse tribunal de segunda instância”.
O senador criticou a gestão do BNDES e garantiu: “Foi dilapidado. Desde 2005 eu venho denunciando no Senado o desvio de finalidade dos recursos do BNDES. Depois, em 2007, o ex-presidente Lula, por decreto, autorizou a alteração do estatuto do BNDES para flexibilizar a concessão de empréstimos aos chamados campeões nacionais, entre eles JBS, Eike Batista e outros e, sobretudo, financiar países próximos dos nossos governantes ideologicamente, Cuba, Angola, Venezuela, etc. Foram só nesses anos U$ 8 bilhões remetidos ao exterior. E de que forma? Dinheiro público.” Álvaro Dias explicou sob que circunstâncias esses empréstimos foram feitos e criticou o que chamou de “taxas de juros privilegiadas” que, segundo ele, geraram uma conta a ser paga pela população brasileira.
Álvaro Dias garantiu que várias tentativas de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES foram feitas, mas sempre acabaram sufocadas. Por outro lado, ele elogiou a atuação da Polícia Federal no caso, por meio da mais relevante operação em andamento no país: “A Operação Lava Jato é a prioridade do povo brasileiro. O povo brasileiro quer a limpeza, esse ano é o ano da limpeza. Se houver limpeza esse ano, nós teremos mais chances de promover a mudança no próximo ano”.
O senador disse ter esperança de que a Lava Jato esteja mudando a visão do brasileiro para escolhas conscientes nas próximas eleições: “Esses assaltantes, esses ladrões do dinheiro público, não roubaram apenas o dinheiro, roubaram sonhos, esperanças, roubaram vidas. Quantos brasileiros morrem em corredores e hospitais, amontoados, por falta de assistência? A assistência não chega, antes chega a morte. Por quê? Por falta do dinheiro que foi roubado por esses assaltantes. Quantos brasileiros morrem nas ruas violentas do Brasil porque não há segurança pública, porque falta dinheiro para oferecer a adequada segurança publica, portanto eles não são apenas ladrões, eles são assassinos”.
“É claro que nós estamos constrangidos com tudo isso”, disse Álvaro Dias sobre a situação do senador Aécio Neves (PSDB-MG). “É uma situação ímpar. A instituição viveu péssimos momentos na sua história, mas certamente nunca viveu um momento tão dramático de tragédia política como esse que estamos vivendo e, agora, estabelecendo esse confronto com o Supremo Tribunal Federal. Eu me coloco como defensor da Constituição sim. Nós temos a contabilidade criativa do Brasil e é evidente que temos criativos senhores interpretando a nossa legislação e aí a interpretação é livre, mas a interpretação que faço é que a primeira turma do Supremo Tribunal Federal, ao decidir por medidas cautelares diversas da prisão, agiu em consonância com a legislação vigente. A Constituição estabelece as competências do Supremo Tribunal Federal e em nenhuma delas está que o outro poder pode interferir em decisões do Poder Judiciário. Aí, nós não podemos afirmar que o Poder Judiciário é independente. Aí, nós não podemos dizer que temos a interdependência entre os poderes. O Senado está tentando invasão de competência, tem que cumprir a decisão judicial. Não houve prisão. Não cabe ao Senado Federal anular, desobedecer uma decisão do Supremo Tribunal Federal.” Álvaro Dias fez uma afirmação polêmica: “O Conselho de Ética é uma brincadeira, uma encenação, eu me recuso até a falar sobre o Conselho de Ética do Senado. Seria melhor não instalar do que instalar como se faz, para não funcionar. Não é para revelar crimes praticados e condenar criminosos. É para esconder e proteger”.
Perguntado se acredita em uma união de PT, PMDB e PSDB para salvar o senador Aécio Neves e os outros implicados desses partidos em investigações, Álvaro Dias foi direto: “Espero que não, porque seria trágico.” O pré-candidato do Podemos defendeu as instituições brasileiras e observou: “Essa coalizão de forças na defesa de um colega usando desse corporativismo seria condenar a instituição, a sociedade não aceita isso”.
Álvaro Dias comentou a votação da ‘reforma política a toque de caixa’ feita pelo Senado na última quinta-feira (5), que deixou passar temas sensíveis, como a censura à internet, vetada hoje (6) pelo presidente Michel Temer: “Em relação à reforma política, nós, os políticos, devemos pedir perdão à população, porque estamos devendo. Há quanto tempo discutimos reforma política e não oferecemos ainda um modelo compatível com as exigências da nossa sociedade? Isso tudo se deve ao presidencialismo forte, quando o presidente se omite.” O senador foi além: “Esse tipo de votação simbólica, lamentavelmente, é uma prática do Parlamento e a pressa, a necessidade, se nós tivemos tanto tempo e não fizemos a reforma foi por incapacidade e o que é flagrante, é revelador, é que isso não aconteceu porque nós temos na Câmara dos Deputados 28 partidos instalados, discutindo e defendendo os próprios interesses, os interesses são diversos”.
Sobre o financiamento do Podemos nas próximas eleições, Álvaro Dias opinou: “O partido certamente cumprirá a lei. Eu, particularmente, pretendo fazer uma campanha modesta, tem que ser mais do que modesta, tem que ser miserável, em razão da situação vivida no país, mas eu não preciso de muito esforço para fazer uma campanha modesta.” Aproveitando o assunto, o senador falou diretamente aos eleitores do país: “Essa é uma hora de grande responsabilidade. A omissão pode ser uma tragédia para o Brasil. Na política ou fora dela, todos os brasileiros lúcidos e conscientes devem ser protagonistas nesta hora, porque, se a escolha for infeliz, no ano que vem o Brasil vai continuar sangrando e o povo brasileiro vai continuar sofrendo”.
Ao ser questionado por que quer ser presidente do Brasil, Álvaro Dias defendeu as habilidades que acredita ter para administrar o país: “Eu tenho uma trajetória política na oposição, sempre fui oposição. Eu faço o caminho inverso da maioria dos políticos, porque a cultura política brasileira é do adesismo fácil. Os políticos, como manadas de elefantes, correm para a sombra do poder, para obter vantagens, benesses, para se locupletar. Eu sempre fiz o caminho inverso. Eu só fui governo, na verdade, quando fui governador. Seria impossível fazer oposição a mim mesmo. E depois, eu fui governo seis meses em 1999, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando assumi o mandato de senador pelo PSDB fui governo seis meses. Em agosto começou o calvário, distanciamento, os conflitos, o desconforto e como tenho prioridade na minha trajetória política combater corrupção, investigar corrupção, quando há denúncia eu apoiei a investigação no governo do meu próprio partido e por isso tive que me afastar e voltei a ser oposição. Então, se toda a minha trajetória política foi uma militância na oposição, combatendo corrupção, investigando, denunciando, e olha, se as denúncias que fizemos em 2008 e 2009 fossem realmente consideradas pelas autoridades e fossem devidamente adotadas as providências necessárias pelo governo, nós não teríamos esse desfalque imenso, esse buraco enorme nas finanças públicas do Brasil. Por isso, se foi toda uma trajetória histórica na oposição, agora é hora de contribuir para construir, é por isso que sou candidato, atendendo um chamamento do partido, por que eu acho que candidatura à presidência da República não pode ser resultado de ambição pessoal, tem que ser resultante da convocação e houve uma convocação do Podemos, por isso eu sou candidato”.
Por fim, Álvaro Dias se disse favorável à taxação de lucros e dividendos das grandes fortunas: “Modelo progressivo. Nós temos hoje regressivo, penaliza os que ganham menos em favor dos que ganham mais. Contribuir menos no consumo, cobrar menos no consumo, cobrar mais na renda e certamente nós estaríamos aí promovendo justiça social com uma melhor distribuição de renda no país e alavancando o crescimento econômico”.