Na sessão realizada nesta segunda-feira (29), Dilma Rousseff não respondeu a nenhuma das perguntas feitas a ela pelo senador Alvaro Dias, além de ter distorcido informações a respeito da participação dos movimentos de rua no processo de impeachment. Inicialmente, Alvaro Dias perguntou à presidente afastada se ela achava que o impeachment de Fernando Collor, ocorrido em 1992, também teria sido um “golpe”, e se a posse de Itamar Franco no governo se constituiu em uma “eleição indireta”, como ela mesma afirmou no discurso que fez da Tribuna.

Alvaro Dias, no seu pronunciamento, também se referiu a um trecho do discurso de Dilma no qual ela levanta suspeitas a respeito da atuação do procurador do Ministério Público no TCU, Júlio Marcelo de Oliveira. No discurso, a presidente afastada afirma que “fatos evidenciaram outro aspecto da trama que caracteriza este processo de impeachment”. Ela mencionou o fato de o procurador Júlio Marcelo ter sido reconhecido como suspeito pelo presidente do STF, assim como o auditor responsável pelo parecer técnico do TCU ter ajudado a elaborar a própria representação que auditou. “Fica claro o vício da parcialidade, a trama, na construção das teses por eles defendidas”, argumentou Dilma. “Que informações a presidente possui para alegar a suspeição em relação ao procurador do MP no TCU, dos conselheiros do Tribunal e do auditor técnico, e falar em trama?”, questionou o senador.

Além de fazer questionamentos, o senador Alvaro Dias também denunciou, da Tribuna, o que qualificou de a “ficção do golpe” denunciado por Dilma Rousseff. O líder do PV salientou que o impeachment foi um “ponto emblemático” das demandas do povo nas ruas. Em sua avaliação, as manifestações populares constituíram um movimento que dispensou os partidos políticos para cobrar o fim da matriz de governos corruptos e da usina de escândalos de corrupção.

“Brasileiros, como ervas benditas dos campos e das cidades enchendo as praças públicas deste País, apelaram por mudança, tendo como ponto emblemático o impeachment da Presidente da República. Evidentemente, o que o povo brasileiro deseja não é apenas a substituição de quem preside o País. Deseja muito mais, deseja a substituição deste perverso modelo de governança, o do balcão de negócios, do aparelhamento do Estado, do loteamento dos cargos públicos, verdadeira usina de escândalos de corrupção, matriz de governos corruptos e incompetentes, que se tornou suprapartidário, clonado e transplantado para muitos Estados e Municípios deste País. É isso o que deseja o povo brasileiro. A presidente Dilma insinuou a hipótese de que, por detrás dos movimentos que levaram multidões às ruas, existiria algo. Nós contestamos porque os brasileiros foram às ruas motivados por movimentos populares que hoje aqui se encontram, que dispensaram, inclusive, a presença dos políticos, dos partidos políticos, de entidades representativas da sociedade. Organizaram-se espontaneamente pelas redes sociais, inundaram as ruas deste País para escrever o seu manifesto de protesto contra a corrupção e a incompetência”, afirmou o senador.

Para Alvaro Dias, que salientou ainda o “fracasso” da gestão Dilma, o impeachment é decorrência do “golpe” do governo contra a Constituição e das afrontas ao Poder Legislativo. Para ele, a presidente afastada tentou, no Senado, “fazer a mágica de transformar um governo fracassado em um governo de êxito, e isso é impossível”.