Diversos estudos indicam que a atividade industrial entrou em declínio no Brasil nas
últimas décadas e, consequentemente, reduziu seu espaço no conjunto da economia. Isso
é desastroso para a manutenção e geração de postos de trabalho, especialmente nos
centros urbanos.
O Brasil passa por um processo de desindustrialização?
AD: Infelizmente os dados dos últimos anos indicam que sim. Todavia, isso não está
ocorrendo pelo fato de estar acontecendo no Brasil uma transição para um modelo
econômico pós-industrial, alavancado pelo desenvolvimento científico e tecnológico.
Ao contrário, o Brasil cada vez mais se apoia na produção e exportação de produtos de
origem primária comercializados nas bolsas de mercadorias, como recursos minerais e
agrícolas, conhecidos como commodities. Embora esses produtos sejam fundamentais e
estratégicos, e que para a sua produção sejam utilizadas tecnologias das mais avançadas,
a ancoragem maior da atividade econômica nesse tipo de produção indica uma redução
do espaço industrial e de agregação de valor.
É possível reverter esse quadro?
AD: Não só é possível como necessário. Reverter esse quadro passa pela ampliação da
participação da indústria na economia nacional, e isso exige criar um ambiente de
negócio favorável, desburocratizando processos e simplificando o sistema tributário.
Além disso, é fundamental a ampliação dos acordos comerciais e a recuperação da
imagem do Brasil, que está em queda livre no exterior e até mesmo entre os brasileiros.
Entretanto, isso não significa deixar de ocupar e aproveitar bem o mercado de
commodities.
A ciência e a tecnologia são importantes nesse processo?
AD: São imperativas, determinantes. A capacidade competitiva de uma nação não pode ser
analisada dentro de uma visão desconectada de mundo. No mundo globalizado, a
aptidão para se colocar no jogo da produção e do comércio internacional e de competir
quando nele estiver inserido, em grande medida está assentada na capacidade científica,
tecnológica e acadêmica que o País conseguiu desenvolver.
Não temos dúvida que o desenvolvimento científico e tecnológico constitui o visto de
entrada para a participação nas novas terras de oportunidades que estão sendo
apresentadas às sociedades e às economias. Neste contexto, uma nação não pode apenas
aceitar de forma passiva o desenvolvimento científico e tecnológico desenvolvido pelos
outros, deve fazer uma escolha política clara e investir muito no próprio
desenvolvimento.