Mais um artigo de Hélio Duque que merece ser lido:
Em tempos pretéritos era normal algumas publicações nacionais destacarem partes dos seus textos com a pergunta: “Você sabia?”. Maneira objetiva de informar os mais diversos fatos e acontecimentos históricos e temporais, que poderiam ter alguma utilidade para a sua visão de mundo e da realidade. Infelizmente nos tempos atuais desapareceu. Recorrerei nostalgicamente, a alguns personagens para responderem sobre a realidade brasileira, nesse inicio de 2014, com a indagação: “Você sabia?”.
1. Sobre viagens internacionais, quem responde é a jornalista Miriam Leitão, em “O Globo”, (31-12-2013): “Os brasileiros viajaram muito e gastaram bastante no exterior. Foram 23 bilhões de dólares gastos lá fora. Contra 6,1 bilhões de dólares que entraram no país com turistas estrangeiros. Um rombo de 16,9 bilhões de dólares na conta turismo.”
2. Que as contas externas brasileiras vem tendo, na importação de derivados de petróleo, situação preocupante? Responde Miriam Leitão: “A balança comercial registra até novembro 39,3 bilhões de dólares de importação de petróleo e derivados. Parte disso é combustível do ano passado, que foi jogado na estatística deste ano. Como houve apenas 19,8 bilhões de dólares de exportação, o rombo do setor petróleo e derivados chegou a 19,5 bilhões de dólares no ano.”
3. Que a manipulação dos preços administrados praticada pelo governo trará sérios danos futuros para a economia brasileira? Quem responde é um velho conhecido de Brasília, João Bosco Rabello: “O governo deveria se preocupar com um aspecto inerente aos processos de correção de rumos: a economia cobra maior velocidade na arrumação da casa do que se levou para desorganizá-la. Como tudo é feito, para que o mal ocorra em 2015, a conta será grande para quem vencer”.
4. Que o improviso na administração pública afeta diretamente a sua própria vida? Experiente servidor do Estado, ex-secretário da Receita Federal, o estimado Everardo Maciel, responde: “A conjuntura não permite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias, são males cuja superação vão requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política”.
5. Que o sistema financeiro, abocanha 5% do PIB brasileiro na cobrança de juros e que internacionalmente a média fica entre 1% e 2% do Produto Interno Bruto dos países? O economista Amir Khair, um dos fundadores do PT, em “O Estado de S.Paulo” (29-12-2013), exemplifica: “Predomina nas análises a visão do mercado financeiro, para o qual não interessa por foco nos juros com despesa. E para desviar a atenção colocam o foco em outro lugar. E porque não interessa? Porque é a mais importante fonte de lucro do sistema financeiro, inclusive de parte importante do setor não financeiro nos ganhos originados de aplicações nos títulos do governo federal.” E completa: “É semelhante ao caso do ladrão que, após se satisfazer do rombo, sai da casa roubada correndo e gritando: “Pega Ladrão!”. Às cinco respostas transcritas, acrescentaria que não fosse a manipulação contábil, a balança comercial brasileira, teria fechado em 2013, com um “déficit” de 5 bilhões e 173 milhões de dólares. O “superávit” festejado pelo governo de 2 bilhões e 561 milhões de dólares, só aconteceu por simulação de exportação. Exemplifico: a Petrobrás vendeu sete plataformas no valor de 7 bilhões e 735 milhões de dólares para uma subsidiária no exterior. Elas nunca saíram do Brasil, estão na Bacia de Campos. Alugadas à Petrobrás. A pajelança cambial impediu que o Brasil fechasse em 2013 a sua balança comercial no vermelho. Sem esse artifício o comércio exterior brasileiro registraria em décadas o seu mais desastroso resultado. Em tempo: a dona das plataformas continua sendo a Petrobrás.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira