O cerco da Rússia à Ucrânia

Por Vitorio Sorotiuk 

No momento em que escrevo este artigo a Ucrânia está cercada por tropas russas desde o Sul – a Criméia -, ao leste por inteiro e ao norte nas fronteiras russas e com as fronteiras da Belarus, por mais de 100.000 homens e tanques. Em que pese a posição firme e unanime dos países europeus e dos Estados Unidos não existe nenhuma garantia que a Rússia não venha a invadir a Ucrânia. Não sabemos como evoluirá a situação.

Dia 17 de janeiro a Representação Central Ucraniano Brasileira encaminhou oficio ao Ministro das Relações Exteriores do Brasil, nominando todas as entidades integrantes, solicitando que o Brasil fique ao lado da Ucrânia. Destacamos que o Brasil atualmente cumpre o seu 11º mandato como membro não permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e é sua função defender nos foros internacionais a Constituição do Brasil que prega em seu Art. 4.º a autodeterminação dos povos, a não-intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz e a solução pacífica dos conflitos; que os ucranianos fazem parte da nação brasileira. Mais de meio milhão de brasileiros são descendentes de ucranianos e tem suas famílias na Ucrânia sob a ameaça russa. A questão ucraniana é também um assunto do Brasil; que a Ucrânia precisa que ajamos agora para apoiar a independência da Ucrânia e impedir uma nova invasão russa. 

Na mesma linha elaboramos uma carta padrão que foi encaminhada por milhares de membros de nossa comunidade e amigos aos Presidentes das Comissões de Relações Internacionais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Com as nossa Igrejas Greco Católica e Ortodoxa foi feito o chamamento para orações pela Ucrânia para os dias 22 e 23. Com o apoio de D. Volodemer Koubetech obteve-se a adesão da Conferência Nacional dos Bispos – CNBB a que o pedido de orações fosse nacional, em todas as igrejas do Brasil. Esse fato foi noticiado nas mídias sociais da Ucrânia e já se converteu em um importante apoio moral à nação ucraniana.

Nós devemos ter uma postura de esclarecimento, com paciência, ao povo brasileiro que pouco conhece de nossa história. Não existe um livro acadêmico da História da Ucrânia publicado em língua portuguesa. E nós precisamos ganhar aliados e não fazer inimigos. Fazer como o Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia Dmitry Kuleba quando se dirigiu aos franceses, relatando o cerco da Ucrânia por 100 000 soldados russos para aqueles que tem fascínio pela literatura russa ou pelo ballet Bolshoi. Ele disse: “Não quero decepcionar ninguém, mas a Rússia de hoje tem pouco em comum com o balé ou a literatura russa, e não vemos bailarinas ou poetas perto da fronteira ucraniana hoje.”

Vladimir Putin tem uma grande máquina de propaganda, com jornalistas a soldo em todo o planeta. Preparando uma agressão á Ucrânia ele fez a publicação de um trabalho insultuoso e falso sobre ucranianos e russos como um “povo único”. Isso é feito por quem quer anexar a Ucrânia como era no período do tsarismo. Toda a sua linha de argumentação vem do período da Rush de Kyiv do séc. IX-XII quando havia ligação de Kyiv com o Norte pela linha dos varegos e que ele diz que eles são a continuidade. O grande historiador ucraniano Mykhailo Hruchevskyi já salientou que a história não se baseia na genealogia dos príncipes, mas na vida dos povos; que a criação de Moscou é a criação de uma outra nacionalidade fino-eslava e que a continuidade do reino de da Rush de Kyiv do século IX-XII é o reino da Galicia-Volínia dos séculos XII -XIV.

Já Alexander Shulguin, historiador, diplomata durante a Revolução Ucraniana de 1917 – 1921, o primeiro Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da Ucrânia, representou a Ucrânia na primeira Assembleia da Liga das Nações em Genebra. Professor (1923), escrevia sobre a relação entre a Rush de Kyiv e o norte: “ Este novo estado que funda no Norte e suas relações entre a grande metrópole de então – a Kyiv Rush – e suas antigas colônias do Norte foram as mesmas que aquelas entre Roma e a França. A história da França não começa com Romulo e Remo, como também não começa pela epopeia de Júlio Cesar conquistando a Gália. É, pois, ilógico, insiste Hruchevskyi de incluir a história de Kyiv na história da Rússia ou do Estado Moscovita e depois no Império Russo.”  E os atuais conhecimentos históricos dão razão a esses estudiosos pois a Ucrânia tem um passado que se estende a 5 mil anos antes de Cristo, muitos milênios antes do período da Kyiv Rush quando Moscou era um banhado.

A Ucrânia é membro titular independente fundador das Nações Unidas em 24 de outubro de 1945. Sem falar que em 5 de dezembro de 1994, com adesão da Ucrânia ao tratado de não proliferação de armas atômicas, a Rússia reconheceu as fronteiras da Ucrânia, incluindo a Criméia. A Ucrânia com o fim da União Soviética em 1991, surge no cenário internacional como a terceira potência nuclear do planeta, pelo número de ogivas nucleares existentes em seu território. Em 5 de dezembro de 1994 é assinado o Memorando de Budapeste : “Acolhendo a adesão da Ucrânia ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares como um Estado sem armas nucleares, Levando em conta o compromisso da Ucrânia de eliminar todas as armas nucleares de seu território dentro de um período de tempo especificado, Observando as mudanças na situação de segurança mundial, incluindo o fim da Guerra Fria, que trouxeram condições para profundas reduções nas forças nucleares,  Confirme o seguinte: 1. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam seu compromisso com a Ucrânia, de acordo com os princípios da Ata Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, em respeitar a independência e soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia;”  Como a Rússia já fez muitas vezes, os tratados e acordos assinados por ela são papéis que se rasgam.

A Representação Central Ucraniano Brasileira vem desenvolvendo contatos com parlamentares de todos os partidos políticos e buscando apoio nas diversas instituições nacionais para aumentar o apoio e solidariedade á Ucrânia. O Brasil assumiu assento no Conselho de Segurança da ONU que tem como missão assegurar a paz e a segurança no mundo. Cabe ao Brasil mostrar que não assumiu o posto para enfeitar a cadeira. A nossa comunidade no Brasil deve buscar influenciar o governo brasileiro para o seu apoio à independência e soberania da Ucrânia; unir-se na determinação ao apoio e solidariedade ao povo ucraniano; apoiar e ajudar nossas entidades na organização do apoio.

              Слава Украіні ! Героям Слава !

            Vitorio Sorotiuk 

Presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira.