Nos últimos anos grupo de privilegiados empresários brasileiros vem sendo agraciados com dinheiro público na escala de bilhões de reais. Os governos Lula e Dilma cunharam a expressão “campeões nacionais” para a institucionalização de verdadeira “Bolsa Empresário” para os amigos do poder. O empresário Eike Batista era a face mais agressiva da estratégia dessas relações incestuosas. O Estado como escudo garantidor, pelo alavancamento de dinheiro público e privado, estimulava a criação de empresas a mancheia onde o “grupo X” era a versão de um “midas tupiniquim”. O atestado de competência, em 27 de abril de 2012, era dado pela presidente Dilma Rousseff: “Eike é o nosso padrão, a nossa expectativa e, sobretudo, o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado.”
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) concedia linhas de crédito subsidiados de longo prazo. Mineração, petróleo, estaleiro naval, energia, carvão, logística formavam o portfólio das empresas do aventureiro que usava o lema: “O X representa a multiplicação, acelera a criação de riqueza.” Agora a conta chegou e é salgada, o grupo Eike Batista está em recuperação judicial, no maior processo de uma empresa latino americana em todos os tempos. Sendo o maior desastre econômico e financeiro do Brasil em tempos recentes. O contribuinte brasileiro pagará substancial valor do desastre que era previsível.
Infelizmente a “festa de arromba” das empresas e empresários dependentes do dinheiro público continua em ritmo alucinante. O jornalista David Friedlander, na “Folha de S.Paulo” (12-01-2014) alertou: “O empresário Joesley Batista, do Frigorífico JBS, está pedindo R$ 2,8 bilhões aos fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (da Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica) para dobrar o tamanho da Eldorado, indústria de celulose controlada pela família. O projeto está orçado em R$ 7,5 bilhões. Para fechar a conta, além dos recursos das fundações, o empresário pretende conseguir financiamento de R$ 4,7 bilhões do BNDES e um fundo de desenvolvimento regional.”
Localizada em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, a Eldorado do Brasil, teria a sua segunda linha de produção, integralmente financiada com aqueles recursos. O alerta de David Friedlander é rigorosamente verdadeiro: “Se a idéia for adiante, a Eldorado vai dobrar de tamanho sem que a família Batista coloque dinheiro na operação. A fatia de mais de 80% dos Batista vai diminuir de tamanho, mas eles continuação no controle.”
A bíblia do capitalismo moderno é fundamentada na obra de Adam Smith onde “Riqueza das Nações” é texto básico. Nela fica explícito que o risco é inerente à atividade produtiva. No Brasil a equação está sendo invertida. Capitalismo sem risco vem fazendo a alegria dos grandes grupos amigos dos governos petistas. O fato é reconhecido, de maneira surreal, até por ministros do governo Dilma Rousseff. É o caso do titular da pasta de Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos: “No Brasil só dá prata a quem tem ouro.”
A frase é antológica e desnudadora de uma realidade: o crédito para a média e pequena empresa encontra obstáculos quase instransponíveis. Daí Afif Domingos advogar a criação de um fundo garantidor, para dar segurança aos bancos na oferta de recursos para médios e pequenos empresários. Vale dizer para os empreendedores médios e pequenos, geradores de milhões de emprego, é preciso ter seguro de crédito. Já para os grandes grupos, basta ter ligações implícitas e explícitas com os donos do poder em Brasília. Inacreditável.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira e Suplente do Senador Alvaro Dias.